Neste artigo, poderemos analisar a história do concurso de beleza feminina Miss Coari, realizado desde 1940 até 1967.
Archipo Góes
Os concursos de beleza são extremamente culturais na cidade de Coari. Geralmente em algumas cidades do estado do Amazonas, acontece apenas a disputa pelo título, todavia, na cidade Coari há um concurso com a participação expressiva de toda a população, colaborando e patrocinando a preparação das candidatas, adquirindo as suas camisas personalizadas para participar ativamente da seletiva e da final do concurso, até mesmo os salões de beleza da cidade, tem por costume fazer parcerias com as candidatas oferecendo o serviço dos profissionais de maquiagem e de cabelo.
O concurso Miss Coari é uma manifestação cultural coariense e uma representação da cultura imaterial do estado Amazonas, sendo um evento que está intrinsecamente ligado às nossas representações.
O primeiro concurso Miss Coari aconteceu no ano de 1940. A escolha aconteceu pelos periódicos amazonenses “O Jornal” e “Diário da Tarde”. Sendo aclamada a senhorita Emília Abinader, que mais tarde viria a ser esposa do senhor Messias Ribeiro, expressivo comerciante de nossa cidade e mãe do socialite Pedro Abinader Ribeiro.
Revestiu-se de extraordinário brilho a solenidade levada a efeito na Prefeitura Municipal, no dia 25 de dezembro, a coroação de MISS COARI. Entre muitas candidatas, todas com justas possibilidades de vencer, conquistou o primeiro lugar do concurso de beleza de 1940, a senhorinha EMÍLIA ABINADER, elemento de escol da elite coariense no meio social distinto de Coari.
Para dizer o que foi esse certame, e do significado desse prélio animadíssimo, pois a senhorinha EMÍLIA ABINADER conquistou o terceiro lugar no Estado com uma votação estrondosa, pouco faltando para ter sido eleita MISS AMAZONAS, foi aclamado o doutorando Raimundo Cordeiro para saudá-la, pela sua vitória no pleito e também pelo natalício da eleita, que transcorreu nesse dia.
Assim falou o doutorando Cordeiro:
«Grata e honrosa a incumbência que me foi confiada, e desempenhando no alcance de meu frasear, quero dizer dos motivos desta solenidade. Quiseram os lados que na data de hoje se pintassem dois grandes acontecimentos: o aniversário natalício e a coroação da eleita a mais bela representante condigna da sociedade deste próspero Município. Sempre é uma satisfação para todos, do humilde plebeu ao rico burguês, a passagem do dia do nascimento, jubila-se o coração, a alma freme de contentamento transbordando a alegria de mais um ano em nossa existência. Rendemos graças ao Criador, e os votos de felicidade são os louros colhidos para a palma da existência».
Miss Coari é um concurso de beleza mais tradicional do estado do Amazonas. Foi organizado a partir dos anos 60 pela associação Tijuca Esporte Club. Depois de alguns anos, passou a ser organizado pela prefeitura de Coari, que no decorrer do tempo, mudou o local do concurso para a praça da São Sebastião, quadra de Esporte São José, Refúgio Dois Pinguins, quadra da escola Dom Mário e atualmente no centro cultural.
O primeiro concurso de beleza internacional de beleza feminina, o Miss Mundo (Miss World), foi criado em Londres (Eng) em 1951, sendo um grande sucesso e muito popular até os dias atuais. O Miss Mundo tem como lema “Beleza com Propósito”, pois cada candidata tem o seu projeto social. No final da década de 1950, a competição foi transmitida pela rede BBC, fazendo sucesso, ganhou grande audiência mundial.
O concurso Miss Universo foi criado um ano depois, em 1952 na Califórnia (EUA). É realizado anualmente, e atualmente, é o concurso internacional de beleza feminina mais importante e badalado. O tema do MU é “Confiantemente Linda”.
Esses concursos foram criados numa configuração hierárquica em que qualquer candidata, ao vencer o concurso municipal, participa de outro concurso estadual (ou província), e ao vencer participa do concurso nacional. Ao vencer a terceira etapa, o concurso nacional, chegará a disputar o concurso internacional final com representantes de cada país.
O Miss Brasil Universo começou a ser organizado no atual formato a partir de 1954, quando a baiana Martha Rocha se tornou a primeira Miss Brasil. Foi o concurso que a grande maioria das cidades do Brasil se associaram automaticamente pela sua grande expressão. Até hoje há pessoas que não conhecem os demais concursos como: Miss Terra, Miss Grand, Miss Mundo, Miss Globo, Miss Beleza Internacional, Miss Supranational, entre outros.
A partir de 1955, os “Diários Associados” no Amazonas, empresa do grupo do empresário e jornalista Assis Chateaubriand, além de organizarem o Miss Brasil desde 1954, começaram a organizar o Miss Amazonas no formato hierarquizado conforme o padrão do Miss Universo.
Em 1955, o ex-deputado estadual coariense, Deolindo de Freitas Dantas, o Dandi, levou a primeira Miss Coari, a senhorita Helvia de Brito Pinheiro, para participar do Miss Amazonas, que teve a coordenação do senhor Epaminondas Barahuna. Mais tarde, na década de 1980, a sobrinha de Deolindo de Freitas Dantas, a professora Simonete Marques Dantas Corrêa Lima foi a principal organizadora dos concursos de Miss Coari.
Em 1956, a cidade de Coari novamente participou do Miss Amazonas 1971 e fez um marcante concurso que ficou na lembrança de todos. A candidata que representou Coari no Miss Amazonas foi a senhorita Geny Silva, que foi apresentada pelo Jornal do Comércio em matéria de 19 de maio de 1956 dessa maneira:
Geny: modéstia, simplicidade e fleuma de uma legítima cabocla.
A modéstia fez morada na personalidade de Geny Silva, a bela candidata de Coari, que hoje, no Teatro Amazonas, estará competindo, com outras beldades desta mui ensolarada terra de Ajuricaba, no sensacional concurso, para a escolha de Miss Amazonas. O repórter manteve com ela uma agradável palestra, sentindo, no decorrer da conversa, a simplicidade que envolve o seu coração e a sua cativante simpatia. Escolhida para representar o município de Coari, no grande concurso promovido em todo o Brasil pelos Diários e Rádios Associados e patrocinado pelo Organdi Paramount, recebeu a notícia com surpresa e resolveu aceitar a incumbência de representar a sua terra natal, com o único desejo de competir.
Geny, compreensiva, calma, demonstrando em todos os gestos, palavras e fleuma imperturbável da cabocla amazônida, prefere muitas vezes sorrir, a responder às perguntas feitas. Seu olhar parece indicar ao repórter curioso, as respostas procuradas, tranquila, reacende de si uma mística estranha e perturbadora. Gentil, prefere elogiar a ser elogiada.
Entende que as suas companheiras na magnífica tertúlia de beleza que hoje atingirá o seu desiderato, são todas capazes de representar condignamente o nosso Estado, com o brilhantismo que se espera. Sobre si, prefere silenciar, ou quando muito esclarecer que é apenas uma candidata que está competindo esportivamente. Sem nenhuma aspiração maior.
Mas Geny Silva tem predicados suficientes para impressionar o selecionado júri e consagrar lá fora a beleza, a simpatia, a modéstia e a simplicidade da mulher amazonense, embora tente ela mesma negar a verdade.
Logo mais, à tarde, estaremos conhecendo qual a nossa representante na escolha de Miss Brasil. Se Zeina, Cármen, Anabela ou Geny. Todas com reais possibilidades. Todas capazes de brilhar.
De uma coisa estamos certos, após a palestra com a filha de Coary. Ela está competindo porque tem méritos para tal. E com isso, está consagrando a sua terra natal. Vamos aguardar o resultado, na torcida de que Geny Silva receberá calorosos aplausos no Teatro Amazonas e chamar para si a atenção do júri que vai decidir sobre qual será a nova Miss Amazonas.
Jornal do Comércio — 19/05/1956
Geny Silva não ficou bem classificada na final do Miss Amazonas 1956, contudo, deixou marcado com elegância e carisma, a segunda participação da cidade de Coari num concurso de beleza estadual.
No ano seguinte, 1957, aconteceu o apogeu do Amazonas nos concursos de beleza feminina com a estonteante Terezinha Morango. Ela era natural de São Paulo de Olivença e naquele ano ganhou o Miss Cinelândia (1956), Miss Amazonas, Miss Brasil e ficou em segundo lugar no Miss Universo, perdendo para a Miss Peru, Gladys Zender, que foi inscrita no concurso irregularmente com 17 anos.
Apesar do apogeu amazonense nos concursos, a partir de 1957, a cidade de Coari evadiu-se dos concursos de beleza feminina, só voltando 10 anos depois, tendo sua terceira participação no Miss Amazonas de 1967.
Miss Coari 67
No domingo, dia 21 de maio de 1967, aconteceu no Tijuca Esporte Club, o concurso Miss Coari 67. Foi um concurso pequeno, com a participação de apenas quatro candidatas. Foi organizado pelo colunista social Black que veio a Coari para o evento. A vencedora do concurso Miss Coari 64 foi a senhorita Maria das Graças Oliveira e Silva.
O Jornal do Comércio do dia 28 de maio de 1967 publicou a seguinte matéria:
MARIA DAS GRAÇAS É A BELEZA DE COARI
Jornal do Comércio – 28/05/1967
Escolhida numa festa maravilhosa, dentre outras concorrentes, a bonita MARIA DAS GRAÇAS OLIVEIRA E SILVA terá a responsabilidade de representar o município de COARI no “M. A. 67”, apoiada pelas classes conservadoras, daquela comuna.
Sobre a escolha e festa de Maria das Graças, o setor de coordenação do Miss Amazonas 67 recebeu da senhora Maria Higina de Coari, o seguinte telegrama: “Jornalista Dr. Jayme Rebello — Rádio Baré — Jornal do Comércio.
— Sensibilizada com o êxito promocional de gala do estimado cronista social Black do programa “Música e Sociedade”, estou enviando meus respeitosos cumprimentos não só ao prezadíssimo amigo, como também a toda equipe radialista e jornalista que empresta a sua valorosa colaboração a querida e maior emissora e jornal dos Diários e Rádios Associados da América Latina. Nossa candidata é a senhorita Maria das Graças Oliveira e Silva, estudante do ginásio “N. S. do Perpétuo Socorro” – 3º ciclo ginasial – Candidata pelo Clube da Felicidade e apoiada pelas classes conservadoras de Coari.
Seguirá no dia primeiro de junho pelo Cruzeiro do Sul, juntamente com o colunista social Black, o qual deixou de viajar na quinta-feira (25-05-1967) porque está ultimando os preparativos da viagem de nossa Miss Coari. Com meus respeitos aqui vai consignada minha imorredoura gratidão”.
A colônia coariense em Manaus prepara festiva recepção à candidata Maria das Graças Oliveira e Silva de quando sua chegada no próximo dia primeiro de junho entrante.
CONFIRMADA A CHEGADA DE MISS COARI PARA QUINTA-FEIRA
Jornal do Comércio – 31/05/1967
O Setor de Coordenação do “Miss Amazonas 67”, em conjunto com a Superintendência dos “Associados” manteve contatos no dia de ontem para que o impasse surgido com a falta de vagas para a viagem de Maria das Graças, Miss Coari 67 na próxima quinta-feira, fosse resolvido e conseguiu junto ao Dr. José Lopes, presidente da Celetramazon, a cessão de duas vagas de funcionários da empresa, a candidata coariense e o cronista Black para que o programa não fosse interrompido, gesto que muito cativou aos dirigentes “associados”.
Queremos, pois, daqui enviar os nossos mais sinceros agradecimentos ao Dr. José Lopes, da Celetramazon, assim como o senhor Dickman, gerente da Cruzeiro do Sul em Manaus, pela cooperação dispensada ao caso.
ATRASO DO AVIÃO TRANSFERE PARA HOJE CHEGADA DE “MISS COARI”
Jornal do Comércio 02/06/1967
A senhorita Maria das Graças Oliveira e Silva, representante do município de Coari, somente chegará a Manaus no dia de hoje, às 16 horas, por motivo de atraso do avião que a transportava para nossa cidade, sendo assim, somente hoje haverá a recepção à meiga e simpática Maria das Graças, que se faz acompanhar na viagem da professora Joaquina Oliveira e do cronista social Black, que daqui foi com a incumbência de promover naquela cidade, a escolha da “Miss Coari 67”.
Todas as candidatas ao “Miss-Amazonas 67”, juntamente com o encarregado do Setor de Coordenação, jornalista, radialista e a colônia coariense em Manaus, estarão presentes na grande festa de recepção à Maria das Graças Oliveira e Silva.
A MISS QUE CHEGA
Jornal do Comércio – 03/06/1967
A simpatia de Miss Coari encanta
Jornal do Comércio – 08/06/1967
Sete cabeças para uma coroa
Jornal do Comércio – 09/06/1967
Essas belezas desfilarão hoje
Jornal do Comércio – 09-06-1967
Finalmente hoje a escolha do Miss Amazonas
Jornal do Comércio – 09-06-1967
Nelma Batista eleita Miss Amazonas 67
Jornal do Comércio – 10-06-1967
Leia mais em:
Como se Preparar para o Miss Coari – 2017
Cleomara vence o Miss Amazonas em 1992
Fátima Acris – 50 Anos de Nossa Primeira Miss Amazonas
12 comentários em “A História do Miss Coari (1940 – 1967)”
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